segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CAPITAL DA BOCA - CUIABÁ TEM MAIS DE 5 MIL BOCAS DE FUMO, FREQUENTADAS POR POBRE E FILHINHOS DE PAPAI

  José Ribamar Trindade
Redação 24 Horas News




A reportagem do Portal de Notícias 24 Horas News, percorreu mais de 100 quilômetros em busca de dados e de números que se aproximassem da realidade que a Polícia diz desconhecer. Mas que na realidade conhece. Só não fornece as estatísticas corretas com pretexto de ter que agir, caso declare ou confesse que conhece ponto a ponto todas as “bocas”. Flagramos também, gente da alta elite em carros de luxo comprado “pó”, muitas vezes em plena luz do dia. Descobrimos traficante tomando ponto de traficante. Comprovamos o aumento do tráfico com entrega delivery. A triplicação do tráfico volante. Testemunhamos o trabalho da Polícia Militar e da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil, e confirmamos que só na 9ª Vara de Entorpecentes tramitam mais de 700 processos com réus presos apenas neste ano. Números recordes que representam mais de duas prisões em flagrante por crime de tráfico por dia apenas na Capital

Você sabe ou imagina quantas “bocas” de vendas de drogas fixas e móveis existem apenas em Cuiabá? Seriam mais de cinco mil?. Para um policial que acompanhou a reportagem, sim. Os locais de venda de drogas se espalham como “ervas daninas” e crescem em média 100% ao ano apenas na Capital. Vamos contar de uma a uma e bairro por bairro. Algumas “bocas” já sobrevivem há mais de dez anos, e outras abrem e fecham como num piscar de olhos. Em alguns casos os traficantes morrem, mas são logo repostos por filhos, filhas, mães, irmãs, parentes ou lideranças que nascem no vai e vem da eterna “guerra” entre a Polícia e os bandidos.
A Grande Morada da Serra seria, segundo levantamentos não oficiais, apontado como o maior reduto de traficantes, “mulas” - pessoa pagas para passar com drogas -, pistoleiros à serviço de traficantes e do crime organizado, gerentes de “bocas” e usuários de drogas da Capital.
Somente nas cinco unidades habitacionais do bairro Morada da Serra, seriam movimentadas, dia e noite, pelo menos 600 “bocas” que vendem todos os tipos de drogas. As principais seriam cocaína, crack, maconha e pasta base de cocaína. Mais em algumas “bocas” os usuários também encontram haxixe, ecstasy e algumas “bombas” geralmente vendidas para frequentadores de baladas em boates e festas raves.
A relação de bairros infestados de “bocas”, constam ainda o bairro Dom Aquino, numa proporção que pode chegar a 500 “boqueiros” e seus “exércitos”. O Porto também é considerado um grande reduto de traficantes que movimentam entre 600 e 800 “bocas”, cujos líderes, tanto vendem, a “retalho” ou no varejo, como também vendem no “atacado”.
O bairro Tijucal também é um reduto dos mais conhecidos e frequentados por usuários de todas as classes sociais. São mais de 300 “bocas” que costumam abastecer carros de luxo dirigidos por pessoas que moram em elegantes bairros da Capital, mas que não costumam comprar drogas perto de suas casas para não chamar a atenção da família. Famílias que às vezes sabem o que os filhos estão aprontando, mas fingem que não sabem que seus “filhinhos” estão cheirando “pó”.
Um dos bairros mais movimentados da Capital, tanto pela grande população, como pela sua localização, pois está bem ao lado da Estação Rodoviária de Cuiabá é o Alvorada. São mais de 300 “bocas” que funcionam dia e noite.
Do bairro Alvorada fomos para o Pedregal e constatamos que lá, também por sua localização e seus pontos escuros, inclusive com becos e vielas que muitas vezes confundem até a Polícia, funcionam pelo menos 150 “bocas” fixas e móveis. Pelas andanças, podemos afirmar que o Pedregal também é um reduto muito frequentado por “filhinhos” de papais ricos da Capital.
Em plena luz do dia flagramos dois meninos de no máximo 12 anos cada um, passando droga para um jovem que estava em uma moto potente, dessas de mais de 500 cilindradas. Estávamos no Planalto, outro reduto apontado pela própria Polícia como um dos mais “ricos” na venda de drogas. Por lá, pelo menos 200 “bocas” abastecem, tanto os viciados, como as “bocas” de outros bairros da mesma região.
Os bairros Planalto, Alvorada, Pedregal, Tijucal e Dom Aquinos somam quase 2 mil “bocas” e não só estão no “topo” da venda de pó em Cuiabá nas últimas duas décadas, como também são apontados como os principais abastecedores de todas as “bocas” da Capital.
Os bairros Santa Isabel, Jardim Cuiabá, Duque de Caxias, Morada do Ouro, Coophamil, Verdão, Centro, Popular, Santa Helena, Consil, Araés, Baú, Novo Terceiro, Praeiro, Despraiado, Canjica, Jardins Vitória e Florianópolis, Novo Paraíso, Novo Mato Grosso, Carumbé, Coopema, Pedra 90, Jardim Industriário, Jardim Leblon, Pascoal Ramos, Osmar Cabral e Jardim Fortaleza, são bairros que escondem mais de 100 “bocas” e parte deles também vende drogas no atacado.
Os outros bairros de um universo de mais de 100 comunidades ocultam ao menos 10 a 15 “bocas”, que são movimentadas na base do compra e vende numa rotatividade relativamente menor. A maioria dessas “bocas” consideradas menores, no entanto, aceita como moeda corrente objetos roubados ou furtados, principalmente celulares, joias valiosas trocadas por drogas; modernos aparelhos de televisões que custam mais mais de R$ 5 mil e são negociados, muitas vezes por duas ou três cabeças de basta base de cocaína; notebooks, vídeos, e até simples e baratos ventiladores e liquidificadores.
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Comunidades
em silêncio,
mas assustadas com
a violência do
tráfico e com os
meninos e meninas
no submundo

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Vizinhos de “bocas" não costumam falar nada, mesmo que vejam diariamente uma grande movimentação de carros e motos indo buscar drogas. Ficam em silêncio até quando um “boqueiro” é executado na frente de muita gente. É a famosa “”lei do Silêncio”, muitas vezes compreendido pela Polícia, que espera um pouco para ouvir em sigilo algumas pessoas que possam ajudar numa investigação.
Mesmo acuada, a comunidade delata, indo diretamente em determinada Delegacia de Polícia ou Batalhão da Polícia Militar, ou ligando anonimamente para fazer a denúncia. Em um dos bairros a reportagem conseguiu conversar com uma pessoa - não vamos citar o bairro nem o sexo por motivo de segurança -,  que deu algumas dicas e confirmou o que já sabíamos.
“Aqui já teve mais bocas de drogas. Os tempos e o combate da Polícia mudaram a rotina dos traficantes. Hoje essas bocas já não guardam muita coisa ou quase nada de droga em casa. Os usuários, principalmente os de maior poder aquisitivo também já não vem mais aqui. Eles (os usuários), ligam e os traficantes mandam entregar, geralmente de moto”, conta a pessoa.
A pessoa completa afirmando: “Hoje muitas bocas se multiplicam, não de tamanho, mas de poder, pois usam muitos braços. Hoje os traficantes escondem as drogas em outros lugares, e ainda usam as famosas mulas para entregar as drogas encomendadas nas esquinas, geralmente mais escuras, ou em locais mais afastados para não chamar a atenção, nem da comunidade, nem da Polícia”.
Um policial que pediu para não ser identificado, confirma a multiplicação que ele também chama de “braços” dos traficantes. E ele explica: “Hoje um traficante tem uma boca em determinado bairro, mas como a Polícia já bateu lá e ele foi preso, seus parentes assumem o ponto. Começam a esconder as drogas em outros lugares, geralmente em outros bairros. Mudam e passam a usar os mulas, que nós chamamos de braços, que trabalham em pontos móveis. Geralmente os mulas só carregam, no máximo dois papelotes nos bolsos. Vendem e voltam para buscar mais. Quando são presos, alegam que são usuários e não ficam presos”.
A presença de crianças, pois meninos e meninas hoje já estão no tráfico antes dos dez anos de idade, revolta, assusta, mas também emociona algumas pessoas, principalmente quando um garoto é varado por balas, tanto de traficantes rivais, como da Polícia.
“Não dá para não se revoltar. Também não dá para não se emocionar como cenas absurdas de ver um menino de dez anos entregando drogas para adultos em um carro. Agora, quem não se emociona quando se depara com uma criança envolvida com tráfico morta. Morta muitas vezes com dezenas de tiros, dezenas facadas, pauladas, pedradas e tijoladas que deformam a cabeça de uma criança”, diz uma mulher emocionada,
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Viciados de todas
 as classes sociais
compram droga.
Ou direto nas bocas,
 ou pelo telefone

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A reportagem flagrou em pelo menos três bairros de Cuiabá, dezenas de pessoas em, carros de luxo, principalmente camionetes, comprando drogas em “bocas”. Algumas nem ligaram, muito menos se importaram por serem vistas comprando drogas, algumas em plena luz do dia.
Apesar de ainda existir o contato direto entre os traficantes e os usuários, principalmente os de classe média e alta, a reportagem comprovou que essa prática diminui mais de 50% nos últimos anos na Capital. E a comunidade, mesmo assustada e com medo confirma isso.
“Caiu. Caiu muito. Aqui no Pedregal, principalmente. Muitos filhinhos de papai ainda vem aqui comprar. Só que, os traficantes também mudaram na tentativa de enganar a Polícia, e na maioria das vezes as drogas são entregues sob encomenda”, afirma uma fonte.
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Policiais da PM e da
DRE prendem todos
os dias, pelo menos
dois traficantes, "mulas"

ou boqueiros em Cuiabá
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Mesmo sem homens suficientes para trabalhar - a Polícia Militar (PM), hoje precisa, de no mínimo 15 homens, mas só tem seis mil -, a PM bate recorde atrás de recorde em 2012 em se tratando de prisões, principalmente de traficantes, “mulas” e “boqueiros”, integrantes do crime organizado, responsáveis pelo faturamento de milhões de reais todos os anos com a venda de drogas em Cuiabá.
Juntos, PMs, investigadores, delegados e escrivães da Delegacia de Repessão de Entorpecentes (DRE) mandaram para trás das grandes mais de quatro mil pessoas envolvidas, direta e indiretamente com uso e com o tráfico doméstico de todos os tipos de drogas na Capítal.
Os números se refletem e acalentam um pouco mais a sociedade cuiabana. Números também espelhados em mais de 700 processos criminais que tramitam hoje na 9ª Vara de Entorpecentes de Cuiabá.
Processos de pessoas presas apenas este no de 2012 na Capital. Números de prisões que também tiraram de circulação, não apenas uma grande quantidade de traficantes, mas também de drogas, principalmente cocaína, maconha e pasta base de cocaína, entorpecentes mais usados e consumidos em Cuiabá.
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Delegada titular
da DRE dá lição
de conhecimento e
competência no
combate ao
tráfico de drogas

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Falando abertamente sobre o trabalho da DRE e, principalmente o que ela classifica como brilhante, o trabalho da Polícia Militar, a delegada Alana Cardoso que a “batalha” continua, pois os traficantes mudaram radicalmente suas atuações criminosas.
A delegada Ana comenta que a DRE não tem dados sobre o levantamento da reportagem, mas também não desmente que os números não sejam verdadeiros. Muito pelo contrário, a delegada confirmou que hoje o tráfico triplicou suas ações, dividindo suas atividades em “bocas” fixas e “bocas” móveis.
A delegada também confirmou que o tráfico, além de rotativa e volante, ele se sustenta, principalmente em entregas de drogas em domicílios, na modalidade “delivery”. Drogas entregues na maioria das vezes em motos.
“Não temos um mapa sobre a quantidade exata de bocas em Cuiabá, até porque hoje os traficantes mudaram suas ações e não param muito tempo em um só local. De bocas fixas, hoje eles se espalharam em bocas móveis e não carregam muita coisa para não chamar a atenção, e para se forem presos, alegarem que são apenas usuários”, afirmou a delegada titular da DRE.
A delegada também confirmou o tráfico “delivery”, mas também destacou a reposição de um traficante imediatamente por outro, como da velha história de “rei morto, rei posto”. Ou seja, quando um traficante é preso ou é morto, logo surgem seus parentes, geralmente pais, filhos.

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