segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Preso morre dentro do Cadeião e família suspeita de maus tratos

Ele era alcoólatra e sofria de esquizofrenia. Em troca de bebida (aguardente) deixava que donos de “bocas” localizadas no bairro São Lourenço, considerado um dos mais violentos de Cáceres, escondessem cocaína em sua casa. Foi preso em flagrante na quinta-feira, 8, pela Polícia Civil. Na Delegacia, ao depor, teve uma crise. Foi levado do Pronto Atendimento Médico, medicado e encaminhado à Cadeia Pública, enclausurado no Bloco 1, ala D. No domingo, 11, às 20 horas, estava morto.

Miguel Cleres Gomes da Cunha, 34 anos. No exame de necrópsia, a causa da morte está como indeterminada. O corpo apresenta vários hematomas, nas costas e tórax, assim como um corte no supercílio. Seu sobrinho Andersom afirma que ele foi preso sem hematonas, sem cortes no supercílo.Nos braços, outros sinais de violência: os pulsos machucados pelas algemas excessivamente apertadas.

Na tarde de domingo, antes da morte, a família recebeu uma carta dos detentos do bloco, denunciando maus tratos. A carta narra que Miguel foi retirado da cela e sofreu torturas por parte de vários agentes. Tudo teria sido presenciado por outro detento, que estava com ele na sala de triagem, que os presos chamam de “corró”, e que fica na parte administrativa da cadeia.Um dos agentes teria empurrado Miguel de forma violenta contra a parede, o que teria provocado o corte acima do olho. (Veja a íntegra da carta no final da matéria). A carta foi levada por uma visita para que a família entregasse ao apresentador de TV Edmilson Campos, e nem chegou a ser entregue. Familiares ficaram sabendo da morte horas após o recebimento.

A perícia confirma sinais de sangue na parede. Os peritos que buscaram o cadáver informaram que ele estava com urina nas vestimentas. Na cadeia, a informação é que o preso foi retirado da cela porque apresentava alterações de conduta, e estava na sala de triagem para ser encaminhado para atendimento médico.

O irmão dele, Ezequiel Gomes, afirma que desde o dia da prisão, a família tentou levar roupa, medicamentos e alimentos, e não foi permitido a entrega de nada, apenas de um calmante. “Não conseguimos ver meu irmão. Só agora, morto”-diz ele, afirmando que irá procurar todos os caminhos-Ministério Público, Direitos Humanos, para achar os culpados. “Acreditamos no teor da carta. Ele foi espancado e houve omissão de socorro”-diz ele. O corpo de Miguel está sendo velado na Rua Estrelada, 58, bairro São Lourenço, e será sepultado hoje no cemitério Pax Silva. Ele era solteiro e trabalhava esporadicamente, fazendo “bicos” –a doença não lhe dava muitas opções. Tomava remédios controlados mas era viciado em álcool.

À meia noite de ontem, o delegado Alex Cuyabano, de plantão no Centro Integrado de Segurança e Cidadania, estava começando os procedimentos para a abertura do inquérito que irá apurar os fatos.

Veja a carta que não chegou a ser entregue ao destinatário(obs: transcrita da forma como foi feita):

“A conciencia de todos da Cadeia Publica de Caceres, ao Edmilson Campos

Caro amigo Edmilson Campos, nos reenducandos da Cadeia Publica de Caceres, escrevemos esta carta para lhe esplicar a umilhação e os maus tratos que há muito tempo vem acontecendo aqui na Cadeia Publica.

Ao decorrer dos tempos vários reenducandos estão passando mal de saúde, chegão a ficar até um semana sem ter ao menos uma atenção dos argentes para poder levar ao medico, e quando chegão a chamar para levar ao medico, tirão o reenducando para frente e começão a espancar violentamente sem alguma explicação siquer.

No dia 10 de dezembro, por vouta da manha um reenducando por nome de “Miguel” se sentil mau e foi levado as pressas para frente da cadeia para ter uma consulta medica, os argentes Marcelo, Claudio, Pedro, Dimelo e Neli, torturaro violentamente o reenducando Miguel até ficar totalmente fora de si, sem falar os outros dias que eles entram para dentro da cadeia jogando gás de pimenta e agindo de maneira violenta e incapaz.

Apesar de nossos erros que cometemos no passado e estamos pagando no dia de hoje, não somos bichos para ser torturados e muito menos mau tratados.

Gostariamos que o senhor tivesse ao menos uma atenção siquer ao nosso caso e chamace os direitos humanos para ver se consegue resolver nossa situação, ou si for possível a presença dos promotores de justiça ou algum juiz.

Nosso muito obrigado, e que Deus te abençôe a cada dia mais!

Ass: Cadeia Publica de Caceres-MT"

Por Clarice Navarro

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