Moradores do Posto da Mata, no distrito de Estrala do Araguaia, entre
Alto Boa Vista e São Felix do Araguaia fizeram uma verdadeira 'caçada'
durante a tarde desta quarta-feira (12) aos policiais federais,
rodoviários federais e aos agentes da Força Nacional que conduzem a
operação de desintrusão de não-índios da área demarcada pela Funai em
1998 como terra Xavante.
Líderes da Associação dos Produtores Rurais de Suiá Missú (Aprosum)
alegam que não apoiaram a ação. A ‘caçada’ aos agentes federais
mobilizou aproximadamente uma centena de homens, divididos entre carros e
caminhonetes. Os moradores, que desde ontem não estão mais conseguindo
acesso às ações da operação tampouco à sua linha estratégica, saíram
entrando nas fazendas atrás das forças policiais.
“Quero deixar muito claro que eu desaprovo essa ação. Eu sou contra”,
asseverou o produtor e membro da Aprosum Naves José Bispo, em entrevista
ao Olhar Direto. De acordo com ele, o também membro da associação Sebastião Prado é igualmente contra.
Planejada durante mais uma vigília noturna no dia anterior (quando
também foi anunciada para a imprensa), a ação de caçada às forças
policiais começou cedo da manhã e só foi se encerrar ao fim da tarde, em
meio à chuva. Os homens envolvidos na ação percorreram quatro
propriedades rurais ao longo da esburacada rodovia federal BR-080, onde
concentram-se fazendas de maior porte – as quais foram agrupadas no
“grupo 1”, dentre um total de 4, do cronograma de ação das forças
policiais.
Embora a princípio cientes da estratégia de deslocamento das forças
policiais, os produtores foram se deslocando com base em informações
desencontradas e, a cada instante, um novo paradeiro dos agentes era
cogitado. De início, eles se concentraram na propriedade de Naves, a
fazenda Mata Azul, onde mataram uma vaca para o almoço. Cerca de uma
hora depois, começaram a percorrer a BR-080 em busca dos agentes
federais.
Em um ponto no caminho, os moradores a bordo das caçambas das
caminhonetes recolheram pedaços de pau na mata e pedras para reagir
contra as forças policiais se necessário. Os armamentos improvisados
acabaram não sendo usados, pois não houve sequer rastro da presença de
policiais nas próximas três fazendas nas quais entraram até cerca de 20
km da BR-080.
No retorno, o único ‘rastro’ de agentes federais foram notícias dadas
por pessoas ao longo da estrada dando conta de sobrevoos de helicópteros
– os quais certamente notaram a presença dos veículos em comboio e
descartaram uma possível ação naquela área. No perímetro urbano do
distrito de Estrela do Araguaia (Posto da Mata), os helicópteros –
geralmente “recepcionados” pela população com disparos de rojão – também
foram notados.
Ao fim do dia foi divulgado que a Polícia Federal decidiu não mais
seguir o cronograma publicado anteriormente de visitas às áreas em via
de desintrusão para não ensejar novos confrontos com os moradores
locais, como ocorreu na tarde da última segunda-feira. De qualquer
maneira, a primeira fase da operação federal de cumprimento do despejo
nos 165 mil hectares de Suiá Missú (abrangendo as maiores propriedades
da gleba) se encerra no próximo sábado, também segundo divulgaram fontes
oficiais nesta quarta-feira.
Apesar da caçada frustrada, os moradores continuam mobilizados para
lutar. Medicamentos e alimentos doados por empresários solidários à
causa chegaram hoje ao coração da resistência dos moradores do distrito,
o posto de gasolina localizado na entrada de Estrela do Araguaia.
olhardireto
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