sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

POLÊMICA - Futsal de Cáceres-MT, fronteira com a Bolívia, promove inclusão social


Uma das regiões mais privilegiadas do pantanal matogrossense, banhada pelo rio Paraguai, Cáceres é considerada uma das principais portas de entrada de toda a cocaína produzida na Bolívia, abastecendo o tráfico de São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais brasileiras. O município, a 214 km de Cuiabá, faz fronteira com a cidade boliviana de San Matías. Representante da "Princesinha do Paraguai" nas Olimpíadas Escolares, para atletas de 15 a 17 anos, em Curitiba (PR), o time masculino de futsal da E.E. Onze de Março tem uma missão: afastar os jovens da violência e do crime.

- Há seis anos, nós realizamos um projeto esportivo no colégio, com o objetivo de tirar crianças e adolescentes do mundo das drogas. De 11 famílias de Cáceres, 10 se envolvem com o tráfico. Se não fossemos nós, esses meninos não teriam nenhum envolvimento com o futsal - contou Hudson Ricardi, professor de educação física da E.E. Onze de Março.

O treinador afirmou que a instituição de ensino oferece a quadra e os materiais esportivos, enquanto os professores realizam a parte de treinamentos e a logística do projeto social. Para a iniciativa se manter, Hudson revelou que conta apenas com a ajuda da comunidade local.

- O esporte é uma prevenção. É muito mais barato investir do esporte do que criar casas de recuperação para os usuários de drogas. O governo precisa se envolver mais nos assuntos esportivos. Em Cáceres, o esporte é uma calamidade. Nós só conseguimos montar este time graças à ajuda da escola, dos amigos e de conhecidos - comentou.


Cáceres, o palco de uma batalha contra o tráfico

Recentemente, foi criado um gabinete em Cáceres para combater o tráfico de drogas na região, com a união de polícias e governos, através de planos e ações contra o crime organizado. A ideia é inibir a ação dos traficantes na fronteira com a Bolívia. Do lado de Mato Grosso, apenas 90 homens do GEFRON, polícia especializada na região de fronteira, tem o desafio de fiscalizar quase mil quilômetros entre o estado e o país vizinho. A produção de cocaína na Bolívia é estimada em 100 toneladas por ano e 70% da droga que entra no Brasil passa pelo município de Cáceres. Por esta razão, a Força Nacional de Segurança estará nos próximos três meses em Mato Grosso.

As Olimpíadas Escolares, maior torneio estudantil do país, funciona como uma vitrine para os meninos que sonham com uma carreira de sucesso no esporte.

- As Olimpíadas Escolares podem nos colocar em um lugar de destaque no cenário nacional. Pode ter algum olheiro aqui que chame a gente para jogar em um time grande de futsal. Acredito que o esporte a ajuda a superar muitas dificuldades, como aconteceu comigo, quando enfrentei a morte do pai. Com o futsal, consegui manter a cabeça e seguir em frente - disse Valmir Santos, de 17 anos, que despertou o interesse pelo esporte ao assistir às partidas dos veteranos na escola.

Time de futsal da E.E. Onze de Março posa com a bandeira do Mato Grosso no PR (Foto:Ana Carolina Fontes)
Também com 17 anos, Julian Nolasco afirmou que o torneio estudantil é importante para revelar talentos em diversas modalidades. Mas, para chegar até Curitiba, não foi fácil.


- Se a gente for contar com a ajuda da prefeitura, não viajamos. O futsal não é incentivado em Cáceres. Para viajar, precisamos nos mexer para conseguir dinheiro e patrocínio. Esta competição é muito importante para revelar talentos e vou treinar muito para conquistar o meu sonho, que é ser jogador de futebol.
O time de futsal da E. E. Onze de Março está confiante de que irá erguer a taça da etapa nacional, para atletas de 15 a 17 anos, na capital paranaense. É o que conta Edclilson Velozo.

- Passamos por muitas dificuldades, alguns dos nossos amigos saíram das ruas para praticar o esporte, mas nós temos de superar os obstáculos no nosso dia a dia. Nosso futsal é forte e vou dar o sangue aqui na competição. A minha expectativa em Curitiba é ser campeão - vislumbrou o jovem de 16 anos.

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